Antes de aventurar-se por aí reproduzindo gráficos complexos (não que isso não seja altamente desejável), customizados ou mesmo apostando em criações originais é sempre bom fazer um pequeno exercício e voltar a atenção as regras de construção que regem gráficos mais básicos e comuns para entender como eles funcionam e para que situações são mais adequados. Uma vez compreendidas tais regras será muito mais fácil trabalhar em projetos mais complexos com seguranca e propriedade.
Abaixo reproduzo, não literalmente, mas a junto a meus comentários e considerações, parte de um livro bem bacana que trata justamente dos gráficos mais conhecidos. É o The Wall Street Journal Guide to Information Graphics de Dona M. Wong. É um livro simples, fácil de ler e bastante completo no que se propõe a ser: um guia rápido de referência para as situações mais comuns. Durante o período em que trabalhei como editor de infografia no Internet Group o consultava constantemente e sempre, sempre encontrava alguma solução por lá quando me deparava com alguma dúvida. Vale a pena ter na biblioteca.
Comecemos com os três elementos essenciais para um bom gráfico:
Conteúdo: acredito que essa é a parte mais importante. Do que trata o seu gráfico e a riqueza desse conteúdo. O gráfico pode ser algo lindo (esteticamente falando) e super bem executado mas se o assunto não despertar o mínimo de interesse em qualquer tipo de audiência (ou na audiência pretendida), estará fadado ao esquecimento. É por isso que você sempre deve ter em mente sua audiência, a quem esse gráfico será apresentado. É de interesse global? De interesse de algum grupo específico? Pense nisso já que o primeiro passo para acertar é falar sobre o assunto certo para as pessoas certas.
Visual: aqui a tarefa é valer-se da melhor forma para interpretar e clarificar o conteúdo destacando a essência da informação ao leitor.
Execução: é o que da vida ao gráfico, a maneira como você vai elabora-lo, para mostrar pontualmente o que deseja mostrar.
Posto isso, os passos essencias para atender estes três elementos são:
Pesquisa utilizando fontes de informação confiáveis e independentes. Também não esqueça de pedir autorização para o uso dos dados caso seja necessário.
Edição identificando sua mensagem principal e filtrando seus dados para entregar a essência de sua história a contar
Cenário: escolha o tipo correto de gráfico para apresentar seus dados. Se a ideia é mostrar uma tendência ao longo do tempo, por exemplo, nada melhor que nosso velho (e eficiente) gráfico de linhas. Utilize-se de recursos como tipografia, cores, anotações, títulos e legendas para destacar a informação mais importante.
Checagem: confira seu gráfico de acordo com os dados que conseguiu. Sempre olhe para sua criação do ponto de vista do leitor. Esta tudo claro para um leigo? Algo ficou confuso ou difícil de entender? Também Procure por pontos fora da curva ou algo que parece não fazer sentido e verifique se pode ser um erro ou realmente uma situação fora do comum.
Crie a comparação correta
Essa questão é extremamente importante. Muitas vezes, apresentar seus dados sem nenhuma correlação pode demonstrar uma inverdade ou contar uma história incompleta. Dados absolutos nem sempre contam a história da maneira correta.
Um exemplo:
A renda familiar em três famílas diferentes (vamos considerar que todos os membros da família trabalham e tem a mesma renda)
Perceba no gráfico abaixo que, apresentar apenas a renda como fator principal coloca a família C como a mais rica. Porém, se considerarmos o número de pessoas por família entendemos que a família B tem uma vida financeira mais confortável pois, individualmente, ganham mais que C e A.
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
A partir deste exemplo entende-se que a mensagem do gráfico deve ser consistente com todos os fatos e evidências disponíveis.
É necessário sempre que possível colocar os números em um contexto. Mostrar percentuais, por exemplo, fora de um contexto, não faz o mínimo sentido. Contratar 200 pessoas pode representar 1% da força de trabalho em uma empresa ou 10% em outra.
Dicas e regras para gráficos simples
Gráfico de barras
As barras medem variáveis discretas, valores finitos e numeráveis.
Barras muito estreitas
Quando as barras são muito estreitas, o foco acaba caindo no espaco negativo do gráfico que não contem dado algum. A largura da barra deve ter aproximadamente duas vezes a largura do espaço entre elas.
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Sombreamentos ou cores desnecessárias
Em situações em que as barras medem uma mesma variável, sombreamentos ou cores diferentes não fazem sentido pois só distraem e atrapalham a comparação. Mesma variável, mesmo tratamento gráfico.
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Barras tridimensionais
O uso do 3D confunde a leitura pois não fica claro onde está o topo da barra
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Projeções e estimativas
Sempre que trabalhar com projeções, deixe isso claro tanto nas suas legendas como em um tratamento de cor diferenciado. Utilizar uma cor mais clara é uma boa saída.
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Valores negativos
Um fundo distinto pode ser utilizado para identificar a zona negativa do gráfico.
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Comece do zero
Toda comparação deve partir do zero. Colocar a base do gráfico em um valor diferente de zero leva a uma intepretação equivocada.
Exemplo:
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
No exemplo acima, o valor de 2007 parece ser 5 vezes maior que o de 2004 quando, na realidade é apenas 25% maior. A função do gráfico de entregar facilmente a informação perdeu-se completamente.
Base
Sempre destaque a linha de base em relação as outras linhas do gráfico. Quando um valor estiver muito próximo da base, mostre-o próximo a barra.
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Legenda
Se suas legendas forem muito extensas, não caia na armadilha de inclinar os textos ou, na cenário mais dantesco possível, coloca-las na vertical. No lugar de fazer do mundo um lugar pior onde as pessoas vão precisar inclinar a cabeça para conseguir ler, utiliza barras horizontais.
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Deu zebra
Alternar barras em cores escuras e claras provavelmente vai fazer seu leitor sofrer uma baita dor de cabeça além de tornar a tarefa de comparação quase impossível. Veja por si mesmo no exemplo abaixo e segure-se para para o caso de sofrer tontura.
No lugar disso, ordene as cores da mais clara a mais escura para fácil comparação
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Legende na ordem correta
Se não for possível colocar suas legendas logo abaixo das barras, procure legendar suas barras sempre na ordem em que elas aparecem no gráfico. Além disso, as legendas são a chave para a informação, coloque-as em um lugar de destaque e de fácil visualização. Também tente manter a comparação em barras múltiplas em até quatro categorias. Um número acima disso será de difícil leitura. (O exemplo abaixo tem 3 categorias)
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Pontos fora da curva
Utilizando o recurso de interromper uma barra
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Interromper uma barra informativa no gráfico é um recurso utilizado para plotar um ponto fora da curva mas, antes de fazer isso, confirme:
- que seus dados realmente demonstram esse ponto
- que existam ao menos dez barras e apenas uma fora da curva
- que o ponto fora da curva é, no mínimo, três vezes maior que o segundo maior valor nas barras
- que o ponto fora da curva não é o ponto chave da história. Se for, não deve ser interrompido
OBS: sempre legende o ponto fora da curva já que o gráfico não acompanhará esta barra.
Não interrompa uma barra se sua série de dados for muito pequena pois, dada a quantidade, é impossivel saber de fato qual é o ponto fora da curva
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Não interrompa uma barra se o seu valor for apenas duas vezes maior que o segundo maior valor da série. No lugar disso, ajuste a escala de todo o gráfico para comportar a barra maior juntamente com as outras.
(imagem: The Wall Street Journal Guide to Information Graphics | Dona M. Wong)
Como você pode perceber, as lições são bastante simples mas muito, muito úteis, principalmente quando você se depara pela primeira vez com algum problema que não havia enfrentado ainda. Além de gráficos de barra, muitos outros gráficos são dissecados no livro além de dicas de tipologia, cores e outras coisas mais.
Recomendo fortemente ter na sua coleção. Agora vamos pra nossa revisão : )
Lição número 4
- Entenda sua audiência e seu tema. Conecte-os da melhor forma possível
- Sempre que puder correlacione dados
- Estude as regras dos gráficos mais simples e valha-se delas para gráficos mais complexos. Eu garanto, isso vai ajudá-lo.
- Incline os textos apenas quando a evolução da espécie humana deixar uma das pernas mais curta que a outra.
Até a próxima!